— Certa manhã, no parque central lá, o Fernando — amigo meu —, topou com um amigo dele — um empresário, né? Homem de negócios! — e o rapaz tava olhando pra uma árvore. Olhando assim, pra cima, como quem espera o caju cair. Aí ele foi, chegou e perguntou "e aí, Antonio! Como é que tá, cara? Tá indo pra onde? Ou também tá começando a fazer caminhada na matina?" Aí o Antonio: "Fernando, meu amigo, eu tô esperando um negócio." O Fernando ficou assim, né. Ele: "esperando negócio, Antonio?" Aí ele começou a rir. "Esperando negócio de árvore? Qual é a tua oferta, hein? He, he." O Antonio ficou assim, sabe? Aí ele explicou: "Eu tô esperando a maleta lá em cima." Rapaz, uma maleta? E maleta dá em árvore? Aí o Antonio pediu que o Fernando fosse lá em cima da árvore pra buscar a maleta. O Fernando falou: "subir? Eu? Antonio, sou eu um cavalo, é capaz de eu cair lá de cima. Por que é que você não vai? Tu é que é um gato!" Aí o Antonio disse: "é que minha mulher tá lá em cima." Chega entortou o focinho, assim. A mulher do cara lá em cima! O Fernando já tava com a cabeça assim: virada do avesso. "Tua mulher lá encima, Antonio? E ela surtou, foi?" E o Antonio: "não, é que sou eu, sabe?" Aí o Fernando solidarizou, não perguntou nada, não quis se meter também, e falou: "ó, tu quer que eu pegue essa maleta? Dá uma força pra mim pelo menos." Aí o Antonio deu um pezinho e num instante o Fernando se agarrou, subiu lá pra cima e se agarrou num galho pra não ter perigo de cair. Aí no meio dos galhos, no meio das folha ele tava vendo alguma coisa, parecia que era um olho e ele afastou assim o folharal... Era a gata mulher do Antonio... NUA! O Fernando ficou "caramba!" Porque gata, tu sabe, né? Chega disse assim pra ela "PIEDADE, SENHORA!" E se abriu todinho. Ha, ha, ha! Pois, macho, ela se zangou. Pegou a maleta e largou na cara dele. O homem, um cavalão daqueles, caindo no chão. Ele falou pra mim que passou bem umas duas semana mal do ombro. Mas o cara é forte, né? Quebrou nada, mas deve ter doído que só a porra. Ele bateu a cabeça ainda, a parte de trás. Chega ficou zonzo! Ele falou que tava tentando se levantar, colocando a mão assim por trás, vendo se cortou alguma coisa na cabeça. O ombro dele todo fodido, essa parte aqui mais pra cima das costa também, parece que ele tinha dado um jeito. A queda foi feia! Aí de repente... jogaram uma água nele. Tavam escorrendo uma água meio quente assim e ele se contorceu no chão, se arrastou, tentando se afastar e a água vindo. Num é que era o Antonio com o pau pra fora mijando nele? Aí o filha da puta pegou a maleta, que caiu junto — não sei como num pegou na fuça do coitado do Fernando —, saiu e não disse um "obrigado". E saiu e ainda falou assim: "Eu é que não faço a oferta primeiro!" Mas não é o que eu tô dizendo mesmo! Por isso que eu digo, macho: o cara quando tem dinheiro É DOIDO. Pode ter certeza. E a doidice vai pra família toda!

— Corta! — gritou o jaguar.

O tamanduá se levantou da cadeira e tomou um susto daqueles, tanto que se irritou depois de um dia inteiro até que relativamente tranquilo.

— Cenário mal-feito — resmungou ele.

É que era uma daquelas pobres cadeiras de plástico; ela fazia parte de um bar cenográfico e o peso do tamanduá entortou levemente um de seus braços. E o jaguar concluiu, agora com o alto-falante:

— Amanhã a gente continua.