Eu odeio poesia. É uma das poucas coisas que me despertam profunda ira. Sem brincadeira, eu odeio essa merda. Entretanto, e infelizmente, sei que existe uma infeliz sequência de versos estúpidos escritos por um tal de Carlos que descreve o causo mais idiota possível. Uma pedra — atenção ao fato de que é uma só pedra — uma pedra no meio caminho simplesmente quebrou o cara. Não é que ele tropeçou na pedra, só dele ter visto uma pedra no meio do caminho já despertou nele um sentimentalismo quase que forçado. Era ridículo, eu pensava. Hoje eu preciso pedir perdão ao Carlos. Foi voltando para casa que eu me encontrei na poesia dele e percebi o quão estúpido era viver na condição que vivemos. Era uma pedra grande, mas não tão grande ao ponto de não ser possível contorná-la. É como se eu tivesse passado por todas as fases do luto ali mesmo. Na minha cabeca, eu iria voltar para casa com a minha sacolinha pelo mesmo caminhozinho de terra que eu seguia sempre que ia e voltava do mercado. Eu não segui; tive que fazer um MÍNIMO desvio e, eu sei, isso não é motivo para tanto alarde. Eu queria não ter sentido o que senti porque eu ainda prefiro não gostar de poesia e desgostar mais ainda de pessoas como Carlos, só que hoje eu vi que ele estava certo. A minha cauda perdeu forças, foi a pior sensação do mundo. E o motivo da minha cauda fraquejar foi o mais inofensivo possível. Sou alguém que sabe o que é ter um revólver carregado e QUENTE colocado dentro da boca. E os meus joelhos, mesmo que por um segundo, sumiram. Eu não senti algo assim nem quando a morte estava quase que preparada para me levar. Também senti uma necessidade irracional de uivar para os céus, tal qual os meus antepassados faziam em seus rituais tribais. Eu me senti o que sou: um animal, e eu não gosto disso. E o pior! Eu me senti um lobinho, indefeso, um lobinho que acabou de nascer. Um animal sem presas, nem garras, sem tamanho e postura para lidar com a porra de uma pedra.

Desculpa, Carlos (ainda te odeio.)

Publicado em 22 de Junho de 2008