Paul trabalhou sete anos em uma empresa na capital. Ele era contador. Certa vez, ele atravessava com pressa o corredor para marcar uma reunião com o gestor. A situação da corporação havia instaurado um clima de incerteza entre os empregados do prédio. As atividades do dia foram praticamente suspensas por ordem das fofocas. Paul passava pelo corredor distraído, tentando não se preocupar com o que o sussurro entre os colegas poderia revelar. Ele nem se tocou que uma toupeira sem sapatos estava vindo em sua direção. As unhas do animal acabaram por espetar a pata direita de Paul. Sem pensar, ele perguntou:
— Você é cega?
A toupeira alegou ter se sentido ofendida e quis ensinar uma lição de moral aos berros, envergonhando Paul. Aquela voz anasalada ecoou ao longo do corredor, interrompendo os sussurros e conversas paralelas.