Foi quando a ponta da espada estava quase indo de encontro com o teto que os olhos de Bruno toparam com um machado pendurado na parede. Um machado solitário, como um quadro só, enfeitando a límpida parede azul-escuro. O objeto deixou Bruno confuso. Ele só estava percebendo o machado ali agora. Aquela sala representava a gerência, um ambiente neutro, em tese, guardando a mesa e a cadeira do diretor-executivo, bem como outros ornamentos que pouco chamavam a atenção. O machado, essa ferramenta primitiva, poderia ser um objeto violento a depender das mãos. Empresas são violentas. No fim das contas, o machado até que carregava um simbolismo coerente ali. Empresas não usam machados, mas podem cortar árvores, galhos, folhas e fazer cair frutos. Mas pouco lhe interessava, entretanto, o que o machado significava. Bruno assimilou um simbolismo pessoal com a ferramenta. É que ao longo de sua jornada, Bruno orquestrou um plano para arrebentar o tronco do sistema. A sua criança interior, aquela criança que nunca nos deixa, queria se sentir um guerreiro imbatível. E sentia-se um justiceiro. Sentia-se um samurai. E ele sabia muito bem que a arma representa o guerreiro. A arma do samurai é a espada e ela representa os valores que um samurai deve carregar consigo. Só que ele jogou a espada de lado. Sem ressentimento, Bruno estava finalmente percebendo quem realmente era por trás dos seus sonhos de menino. O machado é a arma do lenhador, mas lenhadores não são guerreiros. Um lenhador não luta, a menos que seja tolo o suficiente para desafiar uma árvore. O que o lenhador faz é trabalhar. Ele busca um propósito e o machado serve a esse propósito, sem tirar e nem pôr. "Eu nunca fui competente", pensou, "eu não tenho filosofia, não, e a verdade é que eu nunca estive em uma jornada." Retirou o machado do seu lugar, e agora ele estava firme nas mãos daquele guaxinim. "Eu não sou nada, mas como um lenhador, eu tenho um propósito, e o machado serve a esse propósito", concluiu, erguendo a lâmina do machado no ar. "A espada representa o samurai, mas o machado me representa."

E o estrondo ecoou pelos quarteirões.