Agarrou a cabeça da fuinha com as duas mãos, como se agarrasse uma bola de basquete, ao passo que suas garras a envolviam como se quisesse furá-la. Os olhos do jovem pediam clemência. Ninguém saiu de posição, mesmo após ouvirem o crânio estalar. O corpo caiu com tudo no território. Enquanto limpava as mãos na calça, mesmo sem as ter sujado, o tenente poupou seus olhos daquela cabeça deformada e apreciou o paraíso tropical. O denso verde do seu sobretudo até parecia conter um pedaço da paisagem que admirava.
Estavam todos ali, no meio de um grandioso e verdadeiro nada, subjugados à força ou não, por uma missão tão vazia quanto a memória daquela fuinha. Cássio, é claro, não tinha como se tocar disso, mas ele era o único que não conseguia disfarçar o horror. Sentia que, a qualquer momento, as órbitas da fuinha fossem saltar para fora e escalar o seu corpo. A frente da cabeça da fuinha apresentava, agora, um inconfundível inchaço. Era como se aquele corpo estivesse se encharcando de sangue por dentro e fosse explodir a qualquer momento.
"Fui claro?", perguntou o tenente, mais como quem afirma, então fitando o grupo de jovens "guerreiros".
A repulsa de Cássio fedia longe. O velho militar compreendia o que aquilo significava para um jovem que mal atingira a maioridade, mas Cássio lhe parecia ser um daqueles adolescentes cuja breve estadia na vida até então se provara ser uma aula de introdução à barbárie, mesmo que com ela ainda não tivesse aprendido nenhuma lição. Como nunca antes, aliás, deduzia isso com o coração, e não só com a experiência.
"Filho, sinto que os seus chifres têm história", ele disse. "Sua surpresa não vai durar muito."
Cássio empurrou o jacaré magricelo ao seu lado, afastando-se com pressa do amontoado de recrutas. Vomitou nas próprias mãos e levantou o dedo do meio com o casco protuberante, afrontando o líder.
"Fui claro?", até pensou em dizer.