Ao seu lado, a salamandra estava tão concentrada que parecia saber exatamente aonde estava querendo chegar com aquilo, ao passo que ele, uma hora, trabalhava, outra hora, matava o tempo. Estava satisfeito em saber que conseguia passar uma boa impressão, enquanto a salamandra não chegava nem a imaginar se se situava próxima ou distante da ideia que muitos tinham dela. Em um dado momento, ele resolveu tirar um cochilo. Roncava alto, mas não incomodava sua colega. Ele só veio acordar duas horas depois, e enquanto ainda se esforçava para se pôr consciente novamente, a salamandra cochichou algumas palavras no seu ouvido. Fingindo ter entendido a mensagem, o castor perguntou:
— Mas você já viu como as estrelas dançam?
Ele nem se tocou, de início, mas a sua amiga começou a chorar. Ela havia quebrado completamente seu fluxo de trabalho e suas mãos tremiam. Aquilo não era normal, mas o castor só percebeu quando ela afundou o rosto no teclado. Tentando entender o que havia feito de errado, lançou os olhos contra todos os pontos da sala, procurando o motivo daquele vexame. De vivo, só eles. O castor não podia culpar os computadores que povoavam aquela sala.
— É você, é você — repetia a salamandra, tentando conter as lágrimas.
Ele ofereceu um abraço, mas ela já não queria consolo.