Fernando e Odete marcaram presença em um jogo na quinta, mas quando o juíz apitou, o jogo não começou. O tempo parou no exato segundo em que o artefato dentro do apito vibrou para produzir aquela onda estridente. O vento não se esfregava na grama, a luz não penetrava na neblina, ninguém torcia e nem maldizia. E o apito cantando. A vida entrou em suspensão em plena quinta-feira. Tanto Fernando quanto Odete não estavam testemunhando nada com seus sentidos. E o apito cantando. Nenhum dos jogadores questionou a ausência da bola em movimento, mas nenhum deles também ousava chutá-la, mesmo com o apito cantando sem parar. Não houve primeiro, nem segundo tempo. Nem tempo. Só apito. E por uma eternidade, aquele estádio não ouviu nada além daquele apito, até que a partida terminou.

Zero a zero.