Aqui, adultos parecem crianças, mesmo que, em média, todos sejam trinta anos mais velhos que eu. Salas de aulas têm esse feitiço que me encanta. Qualquer uma delas reduz um brutamontes a um pirralho, uma madame a uma moleca. Em mim, nada há se invejar. Nunca fui bonito. Nunca fui esperto. Sei que nunca serei um, nem outro. Agora, sempre fui ignorante. Nisso — eu tenho certeza — sempre serei. Esse é o primeiro motivo que me fez escolher o professorado. A ignorância nos une tanto quanto a nossa miséria, até porque a miséria não leva a lugar nenhum, enquanto a ignorância é o caminho da luz. O segundo motivo que me levou a escolher a docência foram as salas propriamente ditas (ou seja, não só seus poderes). Onde vivo, só se pode viver bem como professor em uma única universidade. E aqui, todas as salas são climatizadas, e eu sou um panda, sobrevivendo na década mais quente do século XXI.