E alguma vez eu neguei que era doida? Nunca neguei neguei que sou doida. Agora, não tenho direito de mudar? Não falo mudar de mudar, não necessariamente, mas pelo menos ter outras prioridades. É porque a Samara não está com filho no bucho para pensar isso. Não, não pode mudar. Não cola ser diferente do que se era ontem. Nunca colou. Eu sei que tem gente que muda do nada, mas eu tenho motivo. Cadê as "titia sim, mamãe nunca"? Os valores se perderam mesmo. Mas imagine ser escrava dos próprios desejos? Ih, falou eu: a maconheira. Todo mundo tem- todo mundo toma umas gotinhas de hipocrisia durante a vida, o problema é que tem gente que toma igual mel. Quem me conhece sabe que eu não sou assim. Não é a toa que eu parei. E quem não tem consciência da própria sorte acaba ficando à mercê da mesma. Eu tive sorte! Uma família liberal, mas não tão solta. Aquele meio termo saudável e adoecedor ao mesmo tempo, sabe? Meu pai é médico, pelo menos. Agora, ele sim sabe que droga é droga. Minha mãe não, minha mãe não sabe de nada. O que ela sabe é o que vê na internet. Manda cada bosta pro meu telefone... Mamãe leu dia desses que maconha deixa a pessoa feia. Sabe o que deixa a pessoa feia? Nacionalismo. O buraco sempre é mais embaixo e vai continuar sendo até não-sei-quando. Problema sempre deu em árvore, dinheiro não — esse corno. E assim, tudo hoje é eu, eu, eu e eu. E esse eu não morre não, é? Só que isso é o que eu penso, mas cada um é cada um. E o que tem de ateu querendo ser santo nesse mundo hoje, é brincadeira. E daí que lobo casou com coelha? Quem vai levar a pica é você? O incômodo talvez seja até por isso. Imundície! Mas ei, eu falei da minha mãe, mas eu não sou diferente. Falo do chão que piso e do que vejo, e não vejo muita coisa já faz um tempo. Nem vejo mais os dedos da minha pata. Pois é, essa barriga cresceu que— rapaz, e é um filme do Cronenberg, é?

Mas o agouro não para!

"Olhe, casar nessa economia..."

"Olhe, o mundo já já acaba..."

"Olhe, essa doença aí não sei aonde..."

"Olhe, as pessoas hoje..."

Olhe, eu já olhei demais. E vocês, já olharam um cacete pulsante? Já olharam uma xavasca pingando, com a maior gula? Olharam foi porra. Aliás, nem isso. A real é que ninguém mais quer dar vazão à impulso nenhum. Querem mais é cagar regra. Minha única súplica ao mundo se eu pudesse falar em um megafone seria: "não sublimem seu tesão!" Vou mudar o mundo? Não vou. Só que assim, todo mundo sabe a situação em que a gente se encontra. A culpa é sempre do capitalismo, mas eu vou ficar remoendo isso? O capitalismo é uma barca, e a barca afundou. A gente só quer se afogar porque a gente é otário. É uma torre que vai cair, e ainda tem quem queira subir. E eu lá vou quebrar minha cabeça com isso? Nunca quebrei minha cabeça com nada. Vou quebrar com isso? Estou prenha demais para me preocupar com uma marmota dessas. Hedonismo é rocheda e tal, mas tem que ter couro. Não vou dizer que não sonho também. Em um mundo ideal, isso não deveria ser verdade. Ninguém deveria ser de ferro para viver. Eu mesma não sou. É capaz de ninguém ser. Dito isso, o objetivo primeiro da ciência, se a mesma realmente estivesse preocupada com o bem comum, era erradicar todas as doenças do sexo. Eu quero é ver alguém inventar uma desculpa quando esse dia chegar...