— Lembra do livro em que perguntam a um robô o sentido da vida e ele responde "quarenta e dois"? — perguntou a carpa.
— A minha esposa adora me usar — respondeu a capivara, a autoproclamada guardiã do subúrbio metropolitano.
— Nesse aqui eles perguntam qual é o sentido da vida a um robô que sabe tudo de literatura russa e sabe o que ele responde?
— A minha esposa adora me usar.
— Ele retorna o endereço de uma padaria que tem aqui perto, você acredita?
— A minha esposa adora me usar.
— Se já estão de olhos em nossos vizinhos, estou com medo do futuro.
A incoerência da velha carpa era nítida para a capivara, mesmo sendo tão cega quanto a faca que usava para picar o lixo.
— 60 anos nas costas e ainda não compreendeu a própria mortalidade, seu Zé? — bradou a capivara. — Poupe eu; poupe nós; poupe você, seu Zé.