Morrer aos 40 e pouco não parece tão trágico. É como se a estaca tivesse sido cravada de volta bem no umbigo. Não era como se ele tivesse com o pé na cova, mas não que também tivesse na flor da idade. Por isso é difícil até dizer se a morte chegou cedo, atrasada ou pontual para ele. O que importa é que ela sempre foi bem-vinda para ele. Eu não acredito que acabei de escrever "na flor da idade". Os níveis de breguice atingiram patamares nunca antes atingidos. Não que eu não seja, de fato, brega. Ser poeta é brega, mas ser depressivo é só triste. Se um forró não te anima, não tem romantismo nessa tragédia. É só paia. Ainda bem que ele escreveu versos mais animadores no auge dos 25, quase metade da idade em que foi de arrasta—olha só o meio-termo ganhando destaque de novo! Só não me sinto tão brega porque sei que tem gente viva, eu acho, diga-se de passagem, que também é brega comigo. Fui tomar um gole com uma jandaia bem aprumada hoje. Na verdade, eu fui tomar um gole sozinha, mas fiquei paquerando ela na minha cabeça—e quem dera minhas próprias penas fosse um charme daquele. Disse ela que ontem mesmo tinha chegado um casal—vindo de Crateús, na verdade—pra tirar foto no túmulo... e eu vim sozinha. Então foi isso: fui ver meu ídolo e pegar meu atestado de encalhada. Se eu fosse "mermin" ele, e desse mais valor ao Poético Ato de se Lambuzar na Autopiedade™, teria me agarrado ali mesmo com ele debaixo da terra. Sem antes, é claro, de pegar emprestado a canetada de um outro poeta pra ser brega uma última vez, forjando uma lápide improvisada com os dizeres:
"Aqui jaz uma jovem forte
Rara e selvagem
Tome meu corpo, minha embalagem
Todo gasto na viagem"