Não consigo dizer o que penso, mas já faz um tempo que não penso direito.

Esse esforço aqui é pra ti.

Ando desanimado e minha vontade de me isolar cresce a cada dia. E a verdade é que no fundo eu quero isso mesmo. Não posso querer o quero, pois o que quero, aparentemente, toma a forma da rejeição fora de mim.

Não importa o quão emocionalmente inteligente alguém seja, o "não" é sempre um insulto. O meu suposto "não" é um insulto. É próprio da nossa natureza pensante não escutar esse "não".

Não queria que fosse pra você.

Só que é culturalmente instintivo assumir que um "não" seja um "sim" com vergonha de dar as caras — ainda mais hoje!

Poucos enxergam os contornos de um "nada" na escrita desse "não", mas eu admito que é difícil traduzir que o que realmente quero dizer com esse "não" seja "nada" e é mais difícil ainda traduzir o que eu quero dizer com esse "nada".

É natural também em nossos costumes pensar que esse meu "nada" signifique um "não" mais seco ou a rejeição de uma alternativa e outra. É difícil expressar que esse meu "nada" também não é o antônimo de "tudo", indo pelo palavra.

Creio até que seja impossível transmitir verbalmente que esse "nada" seja exatamente isso: nada.

Toda palavra significa, até quando não se quer.

Palavras remetem a significados. 'Que é o significado senão uma imagem? Imagens não se negam. Já inventaram um palavra que nega o próprio significado? Não inventaram no nosso tempo, até onde eu bem sei. Nem no tempo antes do nosso, como você bem sabe. 'Que quero, então, é isso mesmo: não querer.

Se um dia eu quis, não quero mais. Eu não quero mais nada.

O esforço valeu a pena. Sinto ter conseguido dizer o que queria ter dito desde o começo.

Meu grande amigo, companheiro de penas negras, macho de bico valente, garanhão de titãs pré-históricas...

Hoje é o meu dia!

Já você fica com o amanhã — e com todos os outros depois deste.

Obrigado.